quarta-feira, 29 de abril de 2009

Matemática da terra

Hoje, 29.04, ocorrerá a esperada audiência marcada por um setor da EMBRAPA para demonstrar que o Código Florestal "trava" a produção no Brasil. Segue abaixo artigo do recém-criado blog de Ciência da Folha de São Paulo (Laboratório), sobre essa iniciativa.
O LERF, através do Prof. Ricardo Rodrigues, ajudou a mostrar argumentos contrários a essa afirmação, lembrando que as Reservas Legais podem ser manejadas para produção, através de espécies nativas, e que além disso há várias áreas abandonadas em propriedades agrícolas que, com um pouco de trabalho e boa vontade, podem, a partir de um zoneamento agrícola, ajudar a compor as Reservas Legais sem prejuízos exorbitantes para a produção agropecuária.
Vejamos nos dias seguintes os resultados disso.

"Começa hoje mais uma ofensiva dos ruralistas contra o Código Florestal. Desta vez, a arena é o Congresso Nacional, onde o setor desmatador tem representantes de peso. Reportagem de Daniela Chiaretti no Valor (aqui, só para assinantes) dá conta de que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura, organizou uma espécie de audiência para debater a lei ambiental.

A "pièce de résistance" do convescote será um estudo preparado por Evaristo de Miranda, da Embrapa Monitoramento por Satélite, que dá conta de que o Brasil tem pouca terra para ampliar sua produção. Excluindo unidades de conservação, terras indígenas e reserva legal, sobram "menos de 30%" do país para ocupação agrícola. Um drama para um país que precisa expandir sua produção de alimentos e, claro, de biocombustíveis. Não é?

Mas examinemos agora os números absolutos. Não é o caso nem de entrar no mérito do estudo, nem de apontar que o ministro Reinhold Stephanes, chefe de Miranda, apresenta ao público uma conta ligeiramente diferente (cerca de 33%). Nem de ressalvar que nem toda área protegida é intocável ou, como lembrou a senadora Marina Silva, o país tem um montão de terras agricultáveis abandonadas a recuperar (coisa que a Embrapa não se propõe a fazer). Vamos aceitar a cifra de Miranda: 29% do país está à disposição da agricultura. Quanto dá isso?

Dá... uma Argentina! Incluindo os Andes, os desertos e os pedrais da Patagônia. São 2,4 milhões de quilômetros quadrados. OK, a Argentina é um pouco maior: 2,7 milhões de quilômetros quadrados. Excluamos então os pedrais da Patagônia, e talvez os campos de gelo. Os ruralistas estão reclamando porque o Brasil só tem o equivalente a UMA ARGENTINA para produzir. A Argentina é o oitavo maior país do mundo.

Ora, não me consta que os agricultures da Argentina (que, vale lembrar, também é uma das principais potências agrícolas do planeta) reclamem de falta de terra, ou que tenham tentado anexar o Uruguai porque, "che, chabón, la Argentina es tán chiquita".

E por que, em nome de Jesus, a lógica ruralista insiste em igualar expansão de produção a expansão de terras e não de produtividade? Resquício de Brasil Colônia?"

Extraído de: http://laboratorio.folha.blog.uol.com.br

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