sexta-feira, 31 de outubro de 2008

IPCC e Mudanças Climáticas Globais

Caros colegas, ontem eu, Nino e Larissa (Unicamp) estivemos na sede da FAPESP em São Paulo para a apresentação dos dados mais recentes compilados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) (http://www.ipcc.ch/).

Estiveram presentes autoridades como Prof. Martin Perry (ex Co-presidente do IPCC; foi Co-presidente durante o Grupo 2 do IPCC no Quarto Relatório de Avaliação de 2007; Imperial College London), o atual Co-presidente do IPCC do Grupo 2 no Quarto Relatório de Avaliação de 2008 Prof. Vicente Barros (Prof. Emérito do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de Buenos Aires; Argentino) e o coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, Carlos Nobre.

Carlos Nobre intermediou as conversas, perguntas e fez a apresentação dos palestrantes. As palestras ministradas foram: Impacts of climate change: the challenge for adaptation and mitigation (Prof. Martin Perry) e Climate change and adaptation in Southern South America (Prof. Vicente Barros).

Bom, envio esse e-mail com algumas anotações e compilações de dados apresentados durante o evento, pois acho que todos devem saber a atual situação do aquecimento global e suas consequências para o ser humano.O quadro que já não era favorável se tornou ainda pior!! Antes o IPCC colocava que tinhamos que reduzir as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) em 50% até 2050 (3%/ano), o que não vinha acontecendo. Mas com o Quarto Relatório de 2007, esse número sobe para 80%, o que significa que temos 40 anos para reduzir as emissões de GEE quase total, e segundo Nobre, essa porcentagem pode ser ainda subestimada, ou seja, otimista demais.
Mas, o pior é que essa redução de 80% das emissões não é para que não tenhamos consequências severas para o planeta e o aquecimento global pare, e sim para que atinjamos a meta de manter o aquecimento em "apenas" 2 graus célcius em relação ao período pré-industrial (quadro mais otimista), ou seja, 1,4 graus a mais do que atualmente, uma vez que já vivemos em um planeta 0,6 graus célcius mais quente do que antes das indústrias, o que já acarretaria em uma série de sérios danos ao ser humano segundo os modelos do IPCC.

Em suma, precisamos reduzir em 80% para que os danos sejam os menos severos possíveis e atinjamos o quadro mais otimista dos modelos do IPCC, o que na minha opinião é meio impossível em 40 anos se continuarmos dando a importância que os governos vêm dando. Detalhe que os modelos não prevêm a degradação que acontece e se intensificará com o aquecimento aos sistemas capturadores de CO2, como os oceanos e florestas.

Algumas das principais conclusões do IPCC apresentada foram:

  • O aquecimento global e as mudanças climáticas estão acontecendo e são ligados à emissão de GEE inequivocadamente, principalmente CO2;
  • Alguns impactos já ocorrem atualmente e futuros impactos severos serão inevitáveis;
  • Necessário reduzir em 80% as emissões de GEE para atingir o quadro mais otimista do IPCC e evitar danos astronômicos ao planeta;
  • Muito importante é a busca por adaptação às mudanças e os impactos futuros;
  • Os impactos mais importantes serão na disponibilidade de água;
  • O segundo grande impacto será aos ecossistemas, com perdas astronômicas de biodiversidade, algo como 25% das spp. de Cerrado e 45% das árvores da Amazônia;
  • O terceiro grande impacto será na produção de alimento;
  • O quarto impacto será o aumento do nível do mar e de tufões e chuvas fortes e volumosas;
  • As regiões mais atingidas serão: África, mega deltas Asiáticos, pequenas ilhas e o Ártico. Na América do Sul, o Nordeste do Brasil;
  • Populações mais atingidas: pobres, crianças, idosos e marginalizados;
  • Eventos como a onda de calor de 2003 que atingiu a Europa em agosto e matou milhares de pessoas serão comuns, algo como ano sim, ano não, e devemos nos adaptar para evitar mortes, o que estamos aprendendo relativamente bem.

Bom, espero ter compilado as principais informações que absorvi durante o evento do dia 30/10/2008. Estou um tanto quanto pessimista com esse quadro, espero que as autoridades governamentais mundiais, ao lerem o Quarto Relatório de 2007 do IPCC, tomem as devidas providências para que o pior não aconteça!! Não consigo imaginar o que será difícil viver com falta de água, comida, migrações de milhares de pessoas pobres pelo mundo, mas o pior, a perda da vida do planeta, da biodiversidade, que durante bilhões de anos se adaptou a viver aqui na Terra, deu origem a uma infinidade de espécies cada qual com suas belas características e tem o direito de aqui permanecer e continuar sua jornada adaptativa. Imaginem perdermos 45% das espécies arbóreas da Amazônia, me dá um aperto no coração, sinceramente!

Grande abraço a todos!!

Nenhum comentário: